sábado, 28 de outubro de 2017

O LIBERAL É UM RADICAL REVOLUCIONÁRIO EM SUAS ORIGENS!

Cabeça mumificada de Jeremias Bentham


O liberalismo é essencialmente uma ideologia revolucionária [01], que se propõe impor um projeto que desconsidera o legado da experiência passada, é uma das formas de aplicar a teoria de que o ser humano é uma folha em branco, que pode ser reescrita livremente.

Em relação ao liberalismo americano pode-se constatar que se trata de uma versão de pensamento ideológico com um forte viés esquerdista e politicamente correto quando aplicado aos valores sociais, muito embora pregue a liberdade econômica em sua forma de teoria libertária, é somente mais um tipo de movimento defensor do ceticismo materialista nominalista perseguidor do cristianismo.

O liberal é o pai natural e necessário do socialista.

Em certa medida a idéia de liberdade é um fruto derivado de um estado de espírito que se mede pela ambição que a pessoa tem por autonomia perante alguma autoridade, somos livres para nos submetermos ou para nos rebelarmos perante esta ou aquela pessoa, mas no fim somos limitados em algum nível de poder, principalmente, pelo poder da morte

Conservar as verdades descobertas e consagradas pelos milênios da experiência humana, isso é conservadorismo, liberalismo é o exato oposto de tal conduta.

Filosoficamente o liberalismo foi o primeiro discurso radical revolucionário que perdurou até meados do século XIX como a ponta de lança ideológica das revoluções, o socialismo /comunismo tirou o cetro dos liberais políticos /morais. Mas liberalismo sempre esteve associado a pautas relativizantes e mesmo anticlericais.

A questão da origem histórica do liberalismo está em sua luta contra a monarquia absolutista e os privilégios da nobreza, ocorre que os ingleses conseguiram estabelecer uma monarquia constitucional com princípios liberais após cortar uma cabeça real em 1689, cem anos depois os franceses foram até as últimas consequências do liberalismo iluminista e deram o pontapé inicial para nossa era de revoluções ideológicas.

A proposta liberal é uma tentativa de criar princípios sobre todos os aspectos da humanidade em bases exclusivamente racionais e materialistas, com especial foco na busca pelo prazer [02] na medida em que isto seria o símbolo da felicidade humana.

O nó górdio do liberalismo é o conceito de liberdade, considerado como a liberdade de satisfazer os próprios desejos [03], que em essência só pode existir como conceito relacional de caráter ético e carregado de valores subjetivos [04], só se é livre em relação a um outro ser, seja físico ou metafísico, daí a bagunça que é criada entre a ideologia da liberdade e a percepção de que há necessidades que a restringem constantemente, seja a lei, seja o Estado, seja Deus, ou mesmo a morte.

De minha parte creio que a única liberdade autêntica é a do espírito, quanto ao resto somos condicionados de tantas formas que a margem de liberdade é quase infinitesimal.

Todo aquele que luta para preservar a verdade inerente à realidade do bem, que perpassa as instituições humanas que refletem as verdades eternas que alimentam as virtudes familiares, viris e feminis, definitivamente, deverá ser cauteloso ao entrar em contato com a ideologia hedonista que se propõe a liberdade absoluta que desemboca nas profundezas tenebrosas do darwinismo [05] ou do marxismo [06].

NOTAS

01 - "Bentham e sua escola derivaram sua filosofia, em todos os seus traços principais, de Locke, Hartley e Helvécio; sua importância não é tanto filosófica como política, como chefes do radicalismo britânico e como homens que, sem intenção de o fazer, prepararam o caminho para as doutrinas socialistas" (Bertrand Russel, in História da Filosofia Ocidental, 3º Tomo, Companhia Editora Nacional, 1957, p. 339)

02 - "James Mill, como Bentham, considerava o prazer o único bem e a dor o único mal." (Bertrand Russel, in História da Filosofia Ocidental, 3º Tomo, Companhia Editora Nacional, 1957, p. 343)

03 - "Há uma lacuna evidente no sistema de Bentham. Se cada homem procurar sempre seu próprio prazer, de que modo podemos estar seguros de que o legislador tenha sempre em vista o prazer da humanidade em geral?" (Bertrand Russel, in História da Filosofia Ocidental, 3º Tomo, Companhia Editora Nacional, 1957, p. 344)

04 - "John Stuart Mill, em seu Utilitarismo, apresenta um argumento tão sofístico que é difícil de se compreender como é que pôde tê-lo julgado válido. Diz êle: o prazer é a única coisa que se deseja; por conseguinte, o prazer é a única coisa desejável. Argumenta que as únicas coisas visíveis são as coisas vistas, as únicas audíveis, as ouvidas, e que, de modo idêntico, as únicas coisas desejáveis sãos as desejadas. Não percebe que uma coisa é "visível" se puder ser vista, mas "desejável" se deve ser desejada. Assim, "desejável" é uma palavra que pressupõe uma teoria ética; não podemos inferir o que é desejável pelo que é desejado." (Bertrand Russel, in História da Filosofia Ocidental, 3º Tomo, Companhia Editora Nacional, 1957, p. 343)

05 - "Os radicais filosóficos [liberais] constituíram uma escola de transição. Seu sistema deu origem a outros dois, mais importantes que êle: o darwinismo e o socialismo. O darwinismo foi uma aplicação, a tôda a vida animal e vegetal, da teoria da população de Malthus, que era parte integral da política e da economia dos benthamistas - uma livre concorrência global, em que a vitória recaia sôbre os animais que mais se pareciam com os capitalistas bem sucedidos. O próprio Darwin foi influenciado por Malthus, e sentia simpatia, em geral pelos radicais filosóficos" (Bertrand Russel, in História da Filosofia Ocidental, 3º Tomo, Companhia Editora Nacional, 1957, p. 347)

06 - "O socialismo, pelo contrário, começou no apogeu do benthamismo, e como consequência direta da economia ortodoxa. Ricardo, que estava intimamente associado a Bentham, Malthus e James Mill, ensinava que o valor da troca de um produto é devido inteiramente ao trabalho despendido em realizá-lo. Publicou sua teoria em 1817, sendo que oito anos mais tarde, Thomas Hodgskin, ex-oficial naval, publicou sua primeira réplica socialista, O Trabalho Defendido Contra as Pretensões do Capital. Argumentava que se, como Ricardo ensinava, todo valor é conferido pelo trabalho, então tôda a recompensa deve ser para o trabalho; a parte obtida então pelo proprietário rural e pelo capitalista tinha de ser mera extorsão. Entrementes, Robert Owen, depois de muita experiência prática como fabricante, convencera-se da verdade da doutrina que logo passou a ser chamada de socialismo. (O primeiro emprêgo da palavra "socialista" teve lugar em 1827, quando é aplicada aos adeptos de Owen). As máquinas, disse êle, estão substituindo o trabalho, o laissez-faire não dera às classes trabalhadoras meios adequados para combater o poder das máquinas. O método por êle proposto para combater o mal é a forma mais antiga de socialismo moderno." (Bertrand Russel, in História da Filosofia Ocidental, 3º Tomo, Companhia Editora Nacional, 1957, p. 347-8)

Werner Nabiça Coêlho



Nenhum comentário:

Postar um comentário